Imigrante agredido: “Trabalhei três anos na agricultura. Nunca lá vi um jovem português”

“Há um ano começou a aumentar muito o racismo. Antes, quando íamos passear a um parque ou na rua, as pessoas eram boas. Agora há muito racismo”, diz à VISÃO Rachhpal Singh, o imigrante de 29 anos que foi agredido na área de serviço de Aveiras, no sentido Lisboa/Porto, quando fazia uma pausa no trabalho, por um grupo de homens que o atacou dizendo-lhe que não devia estar no nosso país.
“André Ventura vai trabalhar na agricultura?”Membro da comunidade sikh, é fácil perceber a origem de Rachhpal Singh, por causa do turbante que usa na cabeça. Mas, durante os primeiros seis anos que cá passou, não se lembra de alguma vez isso ter sido um problema. Os problemas, conta, começaram há um ano. E Rachhpal até aproveita para fazer uma pergunta ao político que primeiro começou a pôr em causa a presença de imigrantes em Portugal. “André Ventura vai trabalhar na agricultura?”, questiona.
Quando ainda não dominava a língua – agora fala Português sem dificuldade – , o único trabalho que encontrou foi na agricultura. Trabalhei três anos na agricultura. Nunca lá vi um jovem português. Só os mais velhos. Os portugueses jovens não querem trabalhar na agricultura. Só querem estar no escritório. Mas no escritório não se produz nada para comer”, atira.
Depois, Rachhpal Singh ainda trabalhou numa fábrica, mas agora está finalmente numa oficina, o trabalho que tinha na Índia. Prestes a ser pai, só quer trabalhar e gostava de explicar aos que temem os indianos que “os imigrantes da Índia não são maus” e que os sikh “têm uma história boa, gostam de ajudar toda a gente, não arranjam problemas”.
Rachhpal Singh estava mesmo longe de imaginar que podia arranjar problemas só por ter parado numa área de serviço. E começou por achar que os homens que o mandaram para a terra dele “estavam a brincar”. Em pouco tempo, porém, a conversa subiu de tom e escalou para um espancamento. Cinco dias mais tarde, ainda teve de voltar ao hospital. Já consegue andar, mas ainda tem muitas dores.
Câmaras e telefone podem levar aos agressoresEstá tudo atestado no relatório médico feito no hospital aonde se dirigiu depois da agressão e Rachhpal acredita que ficou também tudo nas câmaras de videovigilância na estação de serviço, até porque “não estava escuro, ainda era de dia, umas seis da tarde”.
Apesar disso, e de o seu telefone ter uma aplicação que permite rastrear a sua localização (uma hora após a agressão recebeu uma notificação a dizer que o aparelho estava na A8 no sentido de Leiria), ainda não foi chamado pelas autoridades nem tem notícia de que os suspeitos possam ter sido já identificados.
Tomou a iniciativa de ir à GNR sem ninguém o chamar, mas disseram-lhe que a queixa estava formalizada e que devia aguardar. Carolina Furtado Freitas, que juntamente com o namorado se deu como testemunha, também ainda não tinha voltado a ser contactada ao início da tarde desta quinta-feira.
À VISÃO fonte oficial da GNR assegurou que “os factos foram comunicados para o Tribunal Judicial de Alenquer”.
Visao